terça-feira, 2 de junho de 2009

Um amor platónico


Ela ainda usava soquetes e conhece-o no autocarro a caminho do colégio. Do ver-te ao amar-te foi obra de um instante. Ele sentadinho no seu lugar nem deu pela presença dela no primeiro dia, nem nos outros todos que se seguiram... Mesmo assim ela não deixou de sentir um "amor profundo" por aquele rapaz com olhar tímido que frequentava o mesmo autocarro. Com o passar dos dias descobriu que moravam na mesma rua e, lá se punha ela à janela, tal e qual a carrochinha na esperança de que o seu João Ratão levantasse os olhos do chão e olhasse para ela..., mas ele não levantava e, passava no passeio indiferente à sua presença.
Muito sofreu do alto dos seus 13 anos, imaginando cenários e, construindo sonhos para aquele dia em que finalmente falassem. Depois pensava que um amor assim à distância, só poderia ser verdadeiro e digno de um romance de Corin Tellado. Porém e, apesar das adversidades a esperança mantinha-se acesa, pois haveria de acontecer o dia em que ele daria conta de todo aquele amor ingénuo e puro que lhe era destinado. Os dias passavam e qual quê, o rapaz mais velho e mais vivido nem reparava na imberbe menina que se sentava amiúdes vezes ao seu lado na viagem matinal de autocarro. Durou quase um ano sem incentivo, ou algo que o justificasse, mas ainda assim durou.
Quantas vezes pensou dirigir-lhe palavra? Muitas, mas a timidez da idade nunca lho permitiu..., até que um dia as suas amigas a convidaram para o bailarico do bairro, na noite de Santo António. Contente pela sua primeira saída nocturna lá foi ela e, supresa! o seu príncipe encantado também lá estava. Como se começaram a falar ela já nem se recorda, mas não se esqueceu que foi nessa noite que o seu amor morreu e, o príncipe virou sapo na obra de outro instante.

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