segunda-feira, 25 de abril de 2011

Liberdade

Não me apetece falar de revolução, cravos vermelhos ou capitães, mas Abril é um mesmo bonito e o dia 25 especial e diferente, por isso de um dos meus musos, sim porque nem só as musas inspiram o génio; também há musos a inspirarem a  minha ausência de genialidade (ahahah...desconbri! são eles os culpados de tudo o que me falta ;-), em criatividade, claro. Bem, bem, sem mais delongas aqui fica um irónico hino à liberdade..., liberdade que cada um  de nós pode usar da forma que melhor souber e quiser, e com a qual nem sempre é  facil de lidar. Também se fosse, tudo "isto" não teria a mínima graça.

Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!
Ler é maçada,
estudar é nada.
O sol doira sem literatura.
O rio corre bem ou mal,
sem edição original.
E a brisa, essa, de tão naturalmente matinal
como tem tempo, não tem pressa...
Livros são papéis pintados com tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.
Quanto melhor é quando há bruma.
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha ou não!
Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar, e o sol que peca
Só quando, em vez de criar, seca.
E mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças,
Nem consta que tivesse biblioteca...

Fernando Pessoa
(16/03/1935)

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Neblina matinal

Jardim do Museu de Arte Antiga sábado de manhã. A neblina envolve a cidade dando-lhe um tom esbatido. A outras margem é quase uma miragem. Os chorões debruçam-se sobre a minha escrita como que entrelaçando-se nas palavras. Um friso bem alinhado de chaminés bem quietas prefila-se na paisagem. Uma estátua de costas para o rio, metade homem, metade peixe, perdeu a cabeça entre os braços que a seguram. Mais ao fundo um hotel flutuante toca o rendilhado do tabuleiro da ponte. Barcos à vela passeiam-se lentamente no Tejo e os guindastes fazem-nos perceber que afinal o progresso existe. Pássaros sentem-se no seu esvoaçar e o sol tímido a tentar romper as nuvens, fazem deste conjunto, ou não estivesse o museu logo ali, um quadro que se sente por inteiro. Ah, esqueci-me de que estou aqui para estudar! Opsss...mais um crédito para a obrigação; adiam-se os devaneios.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Inconsciente colectivo

Final de tarde de um quente dia de Primavera e lá vou eu Rua Garret abaixo para uma sessão de trabalho...Jung a quanto obrigas!..., mas a apresentação é já amanhã e, na verdade há muitos esboços, alguns escritos, conversa qb..., mas slides e assim...nada feito!!! Toco à campainha e a campainha é dourada... um luxo;-). Entro para a sala e deslumbro-me com a vista da janela: os recortes dos telhados, as torres da Sé e o Tejo ali tão perto. Fabuloso screensaver para um trabalho de psicologia da personalidade. E, as horas vão passando com self, grande mãe, sábio, anima, animus, máscara, herói e outros arquétipos que povoam o nosso inconsciente colectivo e,  nos dão a resposta para as sensações de "déjà vu", explicam o amor à primeira vista e resolvem os dogmas numa dicotomia de explicações tão simples e complexas. Cala-se a rua e escutam-se os barulhos do ar condicionado, logo amenizados pela musiquinha da Marginal a fluir e a influir nas dissertações à volta do inexplicavel Carl Jung...muita droga naquela cabeça!!!
Terminámos de madrugada cansados, com sono, saltando de acordo em desacordo, mas com o prazer do objectivo conseguido. Não fora faltarem os bonecos (apenas consegui um retrato...bonito, é verdade) e o pragmatismo que nos uniu na escolha do psicólogo levou-nos a flutuar numa apresentação prática-cómica cheia de dinamismos e crepúsculos de vida. Faltou desenvolvimento(?!), mas foi um in...consciente que se realizou. Obrigada CR e vê se não é linda esta Mandala.


quinta-feira, 7 de abril de 2011

Reticências

...adoro reticências!
Foi assim que começou uma divertida conserva num domingo de manhã na fantástica esplanada do Museu de Arte Antiga.
Efectivamente as reticências são uma ajuda maravilhosa em qualquer texto, perdão, reticências fazem toillete com tudo o que se diz, pensa ou escreve!
Permitem que a nossa imaginação tome conta do que vem a seguir:

...uma maravilhosa imagem de requintado efeito ictórico;
...um qualquer quadro grotesco;
...um gesto  suspenso; 
...um silêncio constrangedor;
...um pensamento inacabado; 
...um desejo inibido;
....uma caneta sem tinta, 
ou apenas a voz que emudeceu...