domingo, 21 de dezembro de 2008

Puzzle


Lá fora o frio era cortante!

Sentada no seu cantinho, com a lareira a crepitar e a música a envolvê-la, tentava concentrar-se na leitura. O livro escorregou-lhe das mãos e os olhos fixaram-se nas labaredas de tom laranja.

Céus, como é lindo o fogo!!!... Lembrou Camões "amor é fogo que arde...", deixou o pensamento vaguear e chegou àquele amor que lhe ardeu na alma, aqueceu o corpo, secou as lágrimas, iluminou os sorrisos e deu forças para lutar. Foi há tanto tempo!!!... ou terá sido ontem?... a última vez que sentiu o arrepio na espinha e o formigueiro na barriga?

Quiseram construir um puzzle onde as peças encaixavam dia a dia, dando a certeza de que no final ficaria fabuloso e completo, mas...há sempre um mas. Um dia alguém perdeu uma peça, uma das mais pequenas é verdade, mas que no final se veio a relevar tão importante...
Ao príncipio atarantados, procuraram encontrar o responsavel, porém com o passar dos dias tentaram ultrapassar o sucedido, não lhe dando muita importância.
Que ingenuidade a dos apaixonados! - desfizeram o que estava feito, refizeram-no de uma e outra forma, mas acabavam sempre por não conseguir completar o puzzle.
Abandonaram a tarefa algumas vezes, para a retomarem outras tantas, cada vez com menos sucesso. O almejado puzzle ainda tomou forma, mas num acto de desespero as peças baralharam-se e, tudo se perdeu.

Tão simples fazer um puzzle...até as crianças conseguem. Talvez seja mesmo assim...só as crianças conseguem! Os adultos desistem, perdem peças, enfastiam-se.
Será pelo tempo que lhe toma? Porque têm pressa, ou simplesmente porque não querem?
Tanta pergunta sem resposta, tanta vontade de construir e tão poucos obreiros empenhados na construção.

Lá fora o frio era cortante!
Cá dentro também a sua alma tinha gelado.


domingo, 7 de dezembro de 2008

...há sempre alguém!

Tenho um amigo que diz que se escreve melhor quando se está triste e infeliz...
Pois se assim fosse, acho que nos últimos 3 meses já tinha escrito um tratado em 10 volumes, tal tem sido o meu estado de espírito!
Atenção!!...não estou assim apenas porque me apetece estar, mas sinceramente nos últimos tempos nada de bom parece acontecer, ... o pneu que rebentou a meio da noite; o tecto que deita água em cima da minha cama, os problemas do trabalho que tomaram proporções dramáticas!!!
Ainda assim e, porque detesto armar em "calimero", consigo escrever sobre pessoas e coisas bonitas...
...alguém que diz que calça as pantufas do marido porque assim sente os dedinhos dele mais perto!
...alguém que anda comigo debaixo de chuva durante quase 1 hora, só para me fazer companhia!
...alguém que me diz que irritada, fico mais sexy!
...alguém que escreve um mail elogiando-me por ser como sou e valorizando a nossa amizade!
...alguém que me telefona do aeroporto sempre que vai viajar!
...alguém que me liga, porque lhe escrevi dizendo que tinha saudades!
...alguém que está comigo sem pressas e escuta as minhas chatices aliviando-as!
Contas feitas sou uma afortunada porque apesar de todos os infortúnios do dia-a-dia, tenho quem me ajude a interpretar e minimizar os problemas, me faça rir e, acreditar que a amizade é a melhor arma do mundo para a tristeza e depressão.

domingo, 9 de novembro de 2008

Solidariedade


Hoje foi o dia da Corrida Sempre Mulher, uma corrida de 4 km's organizada pela Associação de Prevenção do Cancro da Mama. A inscrição foram 10€ que reverteram integralmente para a associação. Se foram conseguidos cerca de 50 e tal mil euros, valor do cheque entregue pelo Tony Carreira à presidente desta associação, significa que havia mais de 5.000 pessoas solidárias, num domingo às 10 horas da manhã no Parque das Nações. Eu fui uma delas!... porque a solidariedade é uma força extraordinária que move montanhas e nos dá uma gratificação imensa.

Pena tenho, que as pessoas não sejam solidárias no seu dia-a-dia, bastando a maioria das vezes um sorriso, um olhar demorado, uma palavra, um pequeno gesto... Não basta a solidariedade quando há mobilização e acompanhamento dos meios da comunicação social, é preciso mais. Se cada uma de nós prestasse mais atenção ao seu próximo, este mundo seria certamente um lugar melhor para se viver.

Sei do que falo, porque infelizmente estou a viver uma situação muito complicada, na doença de alguém muito próximo. Há dias em que o cansaço psicológico é tão grande, que o telefonema de um amigo é o suficiente para nos dar o ânimo de permanecer e arranjar mais forças para continuar a sorrir, quando só apetece chorar e gritar de raiva. O sofrimento é um buraco negro que nos corrói o brilho, mas por vezes inevitavel face à imprevisiabilidade, impotência e fragilidade do ser humano. Queremos sempre que acabe depressa... Fica-se com medo do futuro, vulnerável e, agora sim, aprende-se a viver um dia de cada vez...
É em alturas de crise que ficamos a saber quem são os verdadeiros amigos - que apesar das suas vidas ocupadas e complicadas arranjam tempo para um telefonema, um convite para jantar, um cinema em cima da hora; tentam encontrar soluções, inventam formas de mostrar o seu apoio, porque se preocupam connosco e, dão valor à nossa dor... e, depois há os outros, que simplesmente não se importam!
"Tornas-te eternamente responsável por aqueles que cativas" - disse o principezinho à raposa. Não sei se foi por ter aprendido esta lição com afinco e esmero, ou se a solidariedade é genética, mas para mim, amizade é responsabilidade. Por tudo isso, o meu reconhecimento a todos os amigos que têm permanecido "sem pressa" e me têm apoiado incondicionalmente. Adoro-vos!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Poema

Quero escrever-te um poema.
Um poema onde seja eu mesma,
sem os artifícios desta vida fútil!
Quero dizer-te tantas coisas,
sem palavras barateadas
a troco de um beijo ou,
de uma noitada boa!
Quero que um olhar meu,
signifique mais que mil palavras!
Quero que um sorriso te toque,
mais fundo que uma carícia!
Quero que hoje ao releres
tudo isto possas dizer...tem valido a pena!

Escrevi este poema há 12 anos. Na altura acrescentaste-o num outro tempo verbal, por isso me decidi a reescrevê-lo alterando o condicional desse tempo, para o presente de hoje. Depois pincelei-o com as cores do arco-íris, esse fenómeno tão fascinante só visivel quando o sol brilha sobre as gotas de chuva.
Assim é a vida: uns dias brilhantes e coloridos, intercalados com outros carregados de nuvens e chuvosos, mas ainda assim, todos únicos, irrepetiveis e valiosos.
Depois e, porque a mudança é a constância do ser humano: "um dia" poderá ser já hoje; e já hoje já vale a pena... e, com certeza vai continuar a valer.
E porque hoje é dia do meu Aniversário, brindo à Vida!!!

domingo, 19 de outubro de 2008

Motos

Andar de moto sempre foi uma coisa que nunca me passou pela cabeça. Até um dia...
Era uma sexta-feira e o dia estava cinzento.
Combinámos o encontro no aeroporto, talvez por ser um sítio de partidas e chegadas e esta ser,… a nossa primeira viagem juntos.
Mas claro que não era uma viagem qualquer: para mim foi a “verdadeira” estreia em duas rodas!
Claro que já tinha feito duas curtas viagens de reconhecimento (de Lisboa a Santarém) para me ajustar ao assento da Suzuki, mas desta vez a coisa era real - de Lisboa a Jerez de la Frontera são 482 kelhómetros, segundo o Guia Michelin.
À parte os medos experimentados em algumas curvas com alma “a mais” para o meu coração de principiante, foi uma viagem plena de adrenalina - pela estreia, pela companhia, pela paixão, pela vivência. Amei!

Passado uns tempos, num outro fim-de-semana, com muita chuva a cair e mais uma série de curvas com alma no horizonte, vamos nós, desta vez numa Blackbird, a caminho da Serra do Marão. A viagem foi feita de noite, com papelinhos nas mãos a limparem a viseira, porque a chuva não deixava ver o caminho. A seguir à chuva veio o nevoeiro e, o dia seguinte acordou cheio de sol deixando-nos admirar a maravilhosa paisagem e a não menos fantástica cidade de Amarante. A parte mais divertida, àparte os contratempos com o fato de chuva, foi que regressámos a Lisboa com a chave da garagem do director da pousada na bagagem! Claro que depois a devolvemos...não fosse fazer-lhe falta!

Num outro dia e agora nesta "funcy" Yamaha combinámos um jantar em Algés. A noite estava quente e a esplanada do restaurante acolhedora. Ficámos horas a conversar e a noite já ía longa quando decidimos vir embora. Esperámos tanto tempo pela conta que não aparecia, que saimos mesmo sem e, adivinhem quem colaborou na nossa "fuga"?!... Foi por demais divertido e este epsiódio ficou na memória pela nossa irreverência de "adolescentes" e cumplicidade. Eheheheh!!!

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Maçãs e homens certos

Girls are like
apples on trees. The best
ones are at the top of the tree.
The boys don’t want to reach for
the good ones because they are afraid
of falling and getting hurt. Instead, they
just get the rotten apples from the ground
that aren’t as good, but easy. So the
apples
at the top think something is wrong with
them, when in reality, they’re amazing.
They just have to wait for the right
boy to come along, the one
who’s brave enough
to climb
all the way
to the top
of the tree.

Este texto foi-me enviado por mail por um amigo e, numa primeira leitura achei a metáfora interessante e válida. Depois, decidi virá-lo do avesso e deu na dissertação que se segue.

Claro que qualquer rapariga que se encontre sem companheiro, de imediato se acha uma maçã no cimo da árvore, a quem o homem certo ainda não descobriu. Esboça um sorriso durante a leitura e pensa que quando aparecer o "tal", esforçado, corajoso e desembaraçado que conseguiu chegar ao topo da árvore, o seu futuro está garantido. Pois é, assim tudo seria facil e calmo, embora um bocadinho aborrecido, porque ficar no cimo da árvore esperando, para além das boas vistas, não me parece grande vida. Depois faz de qualquer maçã, desculpem - mulher, uma grande convencida, porque sou efectivamente tão boa e interessante, que não me serve qualquer um, mas apenas o "senhor certo".

Enquanto que as maçãs reluzentes e inacessiveis do topo ficam na macieira esperando calmamente que alguém as vá colher, o que a nunca acontecer faz com que apodreçam lá no cimo, ou sejam bicadas pelos pássaros, todas as outras "vulgares maçãs", rolam pelo chão do pomar, são colhidas, comidas, trincadas, apanhadas, transformadas em compota, levadas em cestos de picnic, expostas em supermercados. E agora digam-me lá se a vida desssas outras, das que vivem nos ramos baixos não são bem mais interessantes e diversificadas que as do topo? Ah, pois são...


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Uma história

Todas estas rugas na minha cara,
contam-te a história de quem eu sou.
Tantas histórias sobre onde estive

e, como eu cheguei aqui.
Mas essas histórias não significam nada,

quando não tens ninguém a quem as contar.

É verdade...eu fui feita para ti.

Escalei ao cimo das montanhas,

nadei no azul do oceano.
Cruzei todas as linhas e
quebrei todas as regras.
Mas querido, quebrei-as todas por ti,

porque mesmo quando estou arruinada,
fazes-me sentir milionária.

Sim, fazes...e, eu fui feita para ti.

Vês o sorriso na minha boca,

escondendo as palavras que não saem.
Todos os meus amigos que me acham abençoada,

não sabem a confusão que vai na minha cabeça.
Não, eles não sabem quem eu sou de verdade,
nem sabem pelo que eu passei, como tu sabes.

Esta é a tradução da letra desta maravilhosa cantiga escolhida por mim, não por estar na moda e ter uma melodia fantástica, mas especialmente pela letra, que conta uma verdadeira história de amor.
Esse sentimento que por ser impossivel de explicar com palavras, tem originado os maiores tratados e os mais belos poemas. A verdade é que quando e, enquanto faz "história", nos transforma a existência.
É minha convicção que ao amarmos nos tornamos numa pessoa melhor...!

http://www.youtube.com/watch?v=K6aeGdZM0P0

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Perfeito, Imperfeito, Mais-que-perfeito


Os tempos verbais têm nomes lindos! Até o Condicional e o Conjuntivo são interessantes, mas claro que a minha perdilecção vai mesmo para o Mais-Que-Perfeito, porque se o Perfeito já não é facil, imaginem o Mais-Que-Perfeito, que exprime uma acção passada anterior a outra acção também passada. Confuso?!... eu dou um exemplo: "já tinha acabado de escrever este post quando fui dormir". Dois passados seguidinhos um do outro e, temos um Mais-que-Perfeito!

Sinceramente!, ...os tempos verbais têm nomes mesmo estranhos e, depois dizem que as notas na disciplina do português são fraquitas. Claro, só podem ser... ninguém no seu perfeito juízo entende esta confusão.

Será que por ter ficado tudo arrumadinho lá no passado é que lhe chamaram Mais-que-...? Mesmo assim tenho algumas dúvidas porque se eu disser "depois de ter partido um prato, parti um copo" não vejo onde pode estar o mais da perfeição, acho até que é a suprema imperfeição, porque a continuar assim fico sem louça em casa.

Hoje estou cheia de imperfeitos e nem imagino futuros por isso o melhor mesmo é deixar-me estar neste presente, de uma noite de chuva e uma caminha com um edredão fabuloso para me aconchegar. Amanhã certamente que alguns nuvens já se dissiparam e quem sabe até o sol apareça para me dar algum calor.

Ah, além do mais esqueci-me de falar do Imperfeito, mas também para quê falar de algo que nos acompanha de manhã à noite?!...nem vale a pena.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Amigo é assexuado?

Como estamos na era das comunicações virtuais, muitas das vezes as conversas acontecem por mail. Foi o caso desta, agora aqui transcrita:

Actualmente quem melhor pode testemunhar o papel de um homem na vida de uma mulher, somos mesmo nós os três.
Porquê? Porque temos três visões (realidades) diferentes de homens nas nossas vidas, a saber:
Felismina tem às vezes homem … ,e?... não se passa nada de importante;
Pancrácia tem um homem às vezes (nos últimos meses a tempo inteiro) e apesar do “formato” ser diferente, não se passa nada de importante além do outro “conduzir” para onde acha que deve ser;
Josefina por fim, tem homem a tempo inteiro, no formato mais comum, e?...quando precisa que se passe algo – de qualquer género – o melhor é ser mesmo ela a tratar de fazer acontecer.
Por isso quando se está carente o melhor mesmo é um(a) bom(a) amigo(a). Se der para deitar a cabeça, tanto melhor. Mas amigo(a) é assexuado(a).

Já lá vai algum tempo em que este assunto foi abordado, para ser retomado hoje ao almoço, chegando agora nós três a uma nova conclusão - afinal amigo(a) não é assexuado(a). Existem diferenças significativas de pensar, ser e estar entre o género masculino e feminino.
Ainda bem, porque é reconfortante saber que os amigos têm sexo, o que não é o mesmo que ter sexo com amigos.

Então que diferenças existem entre amigo(a) e namorado(a)?! Com o amigo (e agora o género é indefenido, para não estar sempre a colocar "a" no parentesis) conversamos, partilhamos experiências, trocamos banalidades, rimos, choramos, encantamos, desencantamos, acreditamos, sonhamos..., mas não há troca de fluidos do âmbito lascivo ou sexual.

No entanto e, apesar disso não esquecemos que o estar com um amigo é diferente do estar com uma amiga. Por muita intimidade e à vontade que exista, a amizade nunca é igual. Exactamente porque a bolinha com a seta para cima ou a bolinha com a cruz para baixo são intrinsecamente diferentes quanto ao género, podendo apesar disso ser iguais quanto ao tipo. O que eu acho maravilhoso!!!...que bom haver diferenças.

E agora chegámos a uma encruzilhada...se o amigo não é assexuado, o que é o namorado? Apenas o ser sexual?! Não me parece, porque namorado, companheiro ou whatever deveria ser aquele que para além de completar, renovar e utilizar a listinha acima mencionada ainda deveria acrescentar mais umas quantas coisinhas, daquelas boas que provocam formigueiro na barriga e respiração ofegante!

Um amigo dizia-me outro dia: fazemos tanto coisa juntos, só não fazemos "aquilo". Pois é, podemos fazer muita coisa juntos, sem fazermos "aquilo".

E se de repente ou não tão de repente assim, a casta e pura amizade se envolve numa luta corpo a corpo e muito suor à mistura?! Como ficamos depois de despir a roupa, com quem já havíamos despido a alma? Com quem conhece e aceita o nosso lado lunar?

Acaba a amizade e fica o sexo? Impossivel, porque o sexo nunca existiu sozinho.

A amizade passa para outro estágio mais preenchido e interessante? Ou não acontece nada disto?!...que complexas são as relações humanas.

Se a amizade for séria e dura não pode acabar, digo eu, porque sou optimista. Porque se a vontade de se darem também desta nova forma for sentida, o relacionamento só pode ficar mais forte e duradouro. Ainda assim nunca se sabe..., porque cada vez tenho mais dúvidas, daquelas grandes e existênciais. Um dia destes hão-de passar...acho que estão relacionadas com a idade!!!


sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Como ganhei um hóspede!


Chamada por alguns de traiçoeira, acho maravilhosa a língua portuguesa exactamente por ter quase sempre vários significados para uma mesma palavra.
Depois a informática criou ferramentas que nos permitem de uma forma mais rápida e, sem recorrer ao dicionário, chegar a esses significados, aumentando as nossas possibilidades de escolher a palavra certa para caracterizar uma determinada situação.
Claro que também nos permite ir mais longe e divagar à volta dessa mesma palavra. Pois... é assim que fica mais rica a nossa escrita!!!!!

A palavra de múltiplos significados para o dia de hoje só poderia ser hóspede. Por ter sonhado esta noite que estava hospedada num hotel ou por alguém ter estado em minha casa por uns dias?

O hotel do meu sonho era escuro, com espelhos em vez de portas, o que me dificultava encontrar as saídas e entradas. Boa matéria de estudo para um psicólogo, sem dúvida.
Se estivéssemos ainda nos primórdios da psi a solução era a auto-análise que sairia enviesada, distorcida e “a posteriori”… com pouca matéria para uma verdadeira conclusão. Ora ainda bem, porque não quero mesmo chegar ainda ao fim.

De acordo com os significados mais usuais, para hóspede encontrei visita, comensal, turista e peregrino…, de todos estes o turista fica excluído e o peregrino também não se enquadra no contexto. Se formos mais longe nos significados encontramos estranho e alheio e se de certeza não é um estranho, garantidamente também não é alheio. Agora estava mesmo a precisar de um dicionário de antónimos, senão já não sei que hei-de escrever… Calma, sobraram duas palavras: visita e comensal. Sendo que quem fica não é visita, então só pode ser comensal. Além disso comensal é uma palavra bonita.

Chegou de repente, um pedido por mail, que de início pensei tratar-se de mais uma brincadeira. Percebi depois que o pedido era sério, feito num impulso pensado, segundo as suas próprias palavras. Apenas uns dias de pernoita.

Franquei-lhe a porta de minha casa e socorri-me do dicionário para o hospedar, acolher, receber, abrigar, albergar, agasalhar, alojar, acomodar, admitir…

Não impus regras e tacitamente aceitei as suas condições de partilha de espaço, conveniência e convivência. Por uma semana e meia a vida foi diferente neste singelo terceiro andar. Afinal havíamos ganho um hóspede!!!

E, porque tudo o que é provisório, não pode ser definitivo...chegou ao fim dos dias reconhecidamente agradecido e com vontade de partir, ou não (agora já estou a inventar!!!), mas acredito ter sido uma boa senhoria. Pelo menos fiz por sê-lo. E, até gostei de partilhar este meu espaço.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Memórias da minha infância


São tantas e tão boas as memórias da minha infância...

Nasci e vivi no Alentejo até aos 10 anos. Estremoz é hoje a mesma cidade calma e luminosa, de que me recordo, embora tenha passado algum tempo desde então; é só mesmo,... algum tempo.


Mas tal como a verdadeira família é aquela que escolhemos com o coração, também a nossa terra é aquela que o nosso ser adopta e sente como sua, por isso a minha terra é mais Lisboa que Estremoz.

Cresci numa família cheia de regras e valores, que me irritavam e me faziam na altura, um pouco contestatária e irreverente (nada de grave e muito ténue), mas viver com os avós nem sempre é facil e, os alguns anos da minha infância foram passados em casa dos meus.

O avô era uma pessoa austera que antes das refeições começarem, fazia o aviso de que "os meninos à mesa não falam" e, eu e o meu irmão não falávamos, mas passávamos o tempo todo evitando o olhar um do outro senão havia risada pela certa,...acabando depois em reprimenda. Eram dificieis aqueles almoços e jantares a tentarmos portarmo-nos bem. Hoje já conseguimos estar correctamente sentados à mesa!...eheheheheh!!!

A avó era diferente: muito mandona e teimosa, mas também mais leve e solta..., como solto o seu sopapo, que a mão da minha avó era leve a levantar, mas pesada a baixar, mas com ela tudo era mais facil. Com a Guiomar era tudo divertido, pela paciência que tinha para as minhas irreverências, para as desculpa que arranjava quando eu fazia disparates, pelos bolos de aniversário que fazia. Só há um desses disparate que ela não perdoou...o chegar a casa com uma sola extra de alcatrão nos sapatos!!! O que foi preciso esfregar para conseguir retirar o alcatrão colado à sola. Mas acreditem que foi bem divertido andar em cima do alcatrão acabado de aplicar na estrada!!!

Embora respeitasse o meu avô, na altura acho que era mesmo medo que sentia e, só adulta o aprendi a amar. Era dificil de entender aquele distanciamento de afectos, quando não tenho dúvida do muito que gostava de mim, pois fui a única neta (talvez por não ter mais nenhuma; os outros eram rapazes) a quem deu o "petit-non" de carochinha, embora não saiba a razão deste nome, a não ser que eta carinhoso. Deve ser por isso que a história da carocinha é ainda hoje uma da minhas preferidas. O que a minha filha ouviu essa história, revista, alterada, aumentada e comentada não passa pela cabeça de ninguém.

...e como é bom recordar e partilhar essas memórias.

domingo, 18 de maio de 2008

Noites on the rock's



Há tantas coisas que ambos não entendemos, quando afinal é tudo tão simples... se me deixares aproximar não te afasto; se falares vou escutar-te; se precisares de mim vou lá estar; se me quiseres eu quero-te.

Como vês "clean and flat": partilhar faz bem à alma, alimenta o corpo e resolve a distância, único entrave a mais leveza para além da que acontece nas nossas noites de lua cheia, lua vazia ou assim-assim, com humor, amor, vontade e verdade!!!...apetece-me rimar, que se há-de fazer. `
Por vezes toda esta telenovela de episódios intermitentes deixa-me suspensa pelas oportunidades únicas que vamos perdendo; em cada momento irrepetivel que não estamos juntos.
Depois, sinto o teu toque; ouço a tua voz chamando-me de "princesa"; vejo o teu olhar doce e, tudo volta a fazer sentido. Com memórias tão vivas nunca estás longe e, assim vamos adiando e aumentando a espera sabe-se lá de quê.

Será um tipo de jogo inconsciente que nos faz crer que assim não corremos riscos?!...
Será que eu, que detesto jogar, entrei numa jogada interminavel onde não quero mesmo perder?!...
Será que tu, tão racional e planeado, deparaste com uma cartada que se por um lado te seduz, no reverso te assusta?!...

Certamente que estes devaneios se devem a imensas (imensas?!?) horas de estudo dos Fundamentos da Psicologia Cognitiva, mas ainda assim sabe bem escrever estas coisas e senti-las ainda mais, por serem reais e não um teste de escolha múltipla em que as respostas erradas descontam...

Afinal na vida real as respostas incorrectas também descontam...horas de prazer, de felicidade, essa que no dizer de Stefan Klein para além de ser genética também se pode aprender a encontrar.

Desde que comecei a ler o livro deste neurocientista tenho a certeza que estou a caminho da felicidade eternamente possivel, mas esse tema ficará para um outro dia...

O que nós gostávamos mesmo de saber era como conseguir as respostas correctas, somando pontos um com o outro e um para o outro, certo?!..., mas que fazer, não há matriz do enunciado!

Ainda assim, com mais algumas noites on the rock's havemos de chegar à espuma dos dias!

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Encosta-te a mim com uma cantiga d'amor



Dia 29 de Fevereiro no CCB a noite foi de música!...Carta branca a Jorge Palma mostrou-me um excelente pianista em momentos brilhantes de uma acústica fantástica!!!
Todas as suas cantigas desde as mais mediáticas às mais desconhecidas estiveram em palco com uma sonoridade diferente, reinventadas, tanto a solo, como com o acompanhamento de um quarteto de cordas - Quarteto Lacerda.
Foi com bastante satisfação que redescobri o Jorge Palma que encheu aquela sala tanto nos êxitos antigos antigos como no recente Encosta-te a Mim.

Foi no ano passado, numa noite de final de verão que descobri esta cantiga de uma forma intimista e cheia de vontade...de ter alguém com quem partilhar tudo o que já vivi e com quem inventasse tudo o que não vivi...alguém a quem querer bem de uma qualquer forma especial que me dissesse encosta-te a mim!!!

Outro dia através da Rádio Comercial, ganhei convites para o lançamento ao vivo, do novo album dos Rádio Macau - 8.
O evento aconteceu no Maxim's, lugar de culto da noite lisboeta. Foi com bastante entusiasmo que finalmente conheci o cabaret "famoso" d' outros tempos, agora transformado em local de música seleccionada.

O espaço é pequeno, escuro e com alguns veludos vermelhos, mas a proximidade do palco é uma vantagem, muito embora o ficar em pé seja uma desvantagem.

Algum tempo depois da hora prevista os Rádio Macau entraram em palco para nos brindarem com a sonoridade agradavel deste novo album - melodias em verso e versos melodiosos.

"Que te pusesse aos pés um mundo bom, que te jurasse, amor, o eterno amor..." foi com esta Cantiga de Amor que a noite atingiu o seu expoente máximo.


Falei de dois concertos ou de duas cantigas que falam do lado bom da vida: partilhar, dar, inventar, viver, amar?!...

sábado, 5 de abril de 2008

Eu às vezes precipito-me...

...foi assim que acabei estendida na neve e com um joelho "estragado"!!! Ah, pois é e, como diz o nosso amigo "Turn light" o ski não é para mulheres!...não me parece e acho esse pensamento um pouco descriminatório, mas que fazer... a massa era saborosa e até levava cebola...Admirados?!...há que manter a mente aberta e ler um livro do Osho durante a semana da neve.
Tudo isto aconteceu em La Mongie - o paraíso do ski ou, nem por isso...
Saímos de Lisboa pelas 2 e tal da madrugada, numa Renault Trafic, com 8 lugares ocupados, malas e maletas a transbordar, mais as pranchas e os skis. Digamos que a caminheta (terminologia de seguros) ía compostinha com a Tropa de Elite: começando pelas meninas - Miss Wally e Miss Bekabeka; os meninos - Tralho Master, Barritas, Banhocas, Master of Diluvio, Turn Light e Dor de Cotovelo.
Vimos o sol nascer...quem viu, claro, porque a essa hora alguns já dormiam. Continuando estrada fora, com algumas paragens para abastecimento da furgoneta (gosto deste nome) e de nós mesmos chegámos a La Mongie pelas 18 horas locais. Um nevoeiro envolveu-nos nos últimos 14 Kms e foi assim que chegámos aos Pirinéus.
As formalidades da chegada e eis-nos nos maravilhosos apartamentos que tinham mais portas que espaço. Ainda assim eram confortaveis e tinham uma boa vista para as montanhas repletas de neve. Ficámos 4 por apartamento, mas como o 54 e 55 eram contíguos, ficou todo o corredor por nossa conta.
Instalados e com pouco descanso procurámos um sítio para jantar e descobrimos um restaurant com umas fantásticas pizzas, massas e brouchetes, com a ainda mais maravilhosa e charmosa Alex, não é Barritas?
De volta a casa o maravilhoso descanso para acordar cedo (eu escrevi cedo?)...desculpem, foi mais uma precipitação!!!
Pequeno-almoço tomado e com um sol bem agradavel lá partimos os 8 abominaveis do ski, na maravilhosa navette. Chegados às pistas e aquecimento feito, os ski a deslizarem e eu com um fatinho lindo de morrer, ai que eu caio, ai que eu caio, mas não caí...ainda!
Uma pista, um saca-rabos ou agarra-rabos no dizer do Banhocas; mais uma pistinha e... pausa, que esta coisa do ski cansa comó caraças. De volta ao branco, aí vamos nós à descoberta de mais neve numas cadeiras do tempo da 2ªguerra. À saída das cadeiras instala-se a dúvida para onde continuar...os mais afoitos a caminho do ovo para o cimo da montanha. Nós os 3: Wally, Turn Light e eu (Bekabeka) vá de subir numas cadeirinhas para nos mantermos nas verdosas. Mais uma descida e desta vez é que caio mesmo, com som de joelho. Skis às costas e vá de esplanada com umas jolas para animar a malta e vá de regressar à base.
Depois de lavadinhos e aperaltados lá voltámos ao restaurante da Alex, que quase aprendeu a falar português.
Claro que no dia seguinte fiquei em casa e, no outro... Só voltei às pistas mais um dia, para desistir assim que comecei pois a dor do joelho não me deixava curvar à direita e sem curvas, não há ski. Mesmo assim foi tudo bem divertido e aproveitei para ler, descansar e tagarelar na companhia fantástica da minha querida amiga Wally, nos dias que ficou em casa, porque muito ski também cansa e nós estávamos de férias...ah, pois estávamos!!!
Claro que perdi a maravilhosa aventura da Wally, no dia em que chega ao apartamento eufórica e começa a contar como tudo aconteceu: "bem, não estás a ver, diverti-me comó caraças! Cheguei aos senhores das cadeiras e disse que precisava de assistência, por ter o pé trilhado e o joelho ou caraças il est mort. Metade da pista vim de maca transportada por dois "coveiros" de capa preta e o resto do trajecto foi de mota deitadinha e muito tapadinha. Quando cheguei cá abaixo disse que já me sentia melhor e pronto!". Como havia seguro os 450€ do transporte ficaram por conta da seguradora...eheheheh!!!!
Depois do jantar arranjámos sempe entertenimento: para além dos filmes Tropa de Elite, Bee Movie e Crush, vimos a Sharapova a ganhar a uma caramela qualquer, o campeonato do mundo da patinagem artística e o campeonato da europa de natação, para além dos noticiários da Sky News. Claro que tinhamos ainda a resenha do dia, com os videos e fotos que os meninos tiravam nas pistas - as poses do Banhocas, o tralho do Tralho Master, a cambalhota do Dor de Cotovelo e as voltinhas do Master of Diluvio.

Jantámos algumas vezes no restaurante da Alex e em casa comemos massa e, lasanha e, mais lasanha e, mais massa!!!
Na véspera da partida começou a nevar de manhã e só terminou...não sei, porque nos viemos embora... Atrasou-nos a saída porque tivemos de arranjar correntes para os pneus e desenterrar a Trafic da neve.
No meio de tanto nevoeiro houve ainda um dia de sol, que aproveitei para viajar de teleférico até ao Pic du Midi - o observatório mais antigo da europa a 2.8oo e tal metros de altitude e umas vistas fabulosas, para além da viagem de teléférico mais cara que fiz até hoje, mas pronto valeu pelas fotos.
A viagem de regresso feita quase toda de dia, pois saímos por volta das 11 da manhã. Passámos por todas as estações do ano: sol, neve, vento, chuva...
Já em estradas portuguesas tivemos a cereja no topo do bolo - fomos apanhados pela polícia na A23, quando íamos um bocadinho depressa. O carro da polícia com a sirene a reluzir e a mandar-nos encostar. O senhor guarda para além de pedir os documentos e olhar para todos nós com ar desconfiado não fossemos uns foragidos quaisquer, bem tentou arranjar uma qualquer coisa para nos multar e não é que conseguiu?!
Pois foi, ali atrás o senhor não fez piscas, por isso vou ter de o autoar: passe para cá 60€ e tenha uma boa Páscoa. A galhofa que se seguiu foi do melhor e até arranjámos uma cantiga alusiva aos piscas.

Foram umas férias divertidas comó caraças graças a toda a Tropa de Elite. Praticamente não fiz ski, porque que eu às vezes precipito-me...



quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Sentimentos Pessoais


Um dia numa conversa de café combinei com um amigo escrevermos cada um uma história. Depois de algumas imperiais encontrámos finalmente um títuto comum - "Sentimentos Pessoais".

Eu cumpri a minha parte com o "escrito" abaixo. Claro que já passaram alguns anos e continuo à espera do outro texto, para juntar a este... Será que vai ser desta Nuno?


Esta, foi a viagem que iniciei há alguns anos atrás, passando por vários locais, sem nunca me fixar. Em alguns a visita foi demorada de forma a ver tudo, caso da Aprendizagem e do Conhecimento. Noutros as ruas eram tão estreitas ou estavam tão cheias que era difícil passar: a Razão, a Vontade, o Medo. Em alguns lugares demorei-me mais tempo, mas em todos eles faltava sempre qualquer coisa. Finalmente e sem saber como encontrei-me na Cidade dos Sentimentos.
Aterrei no Miradouro da Paixão e assustei-me!
Borboletas coloridas esvoaçavam sem parar; o barulho da música era ensurdecedor; as nuvens estavam tão baixas que me envolviam como de algodão se tratasse; estalavam foguetes por todo o lado; inúmeros copos com bolhinhas de champanhe - enfim, tudo tinha uma brilho tão intenso que mal conseguia abrir os olhos.
Quis ficar… pela novidade. Nunca tinha visto nada assim! Mas os mesmo tempo era tudo tão confuso…
Que Indecisão!… que fazer?
Foi então que me seguraram na mão e, deixei-me levar. Por ruas e ruelas tropecei, caí e levantei-me algumas vezes. Na Rua da Mentira, no Largo do Medo, no Beco da Indiferença, o piso era pedregoso e inclinado. Subi as Escadinhas da Felicidade, andei na Avenida da Liberdade ampla e plana e dobrei a esquina na Rua da Fidelidade para chegar mais depressa ao meu destino. Assim, com sorriso no rosto e uma mão presa na minha cheguei à Praça do Amor, onde tudo era calmo.
As cascatas de água refrescavam o ar, dos livros de poesia saltavam letras, falava-se em melodia, a música ecoava em sussurros, as mesas estavam repletas de iguarias várias, o vinho era adocicado e o calor que eu sentia dava-me Segurança. Então ouvi: “Esta é a Praça do Amor, vamos viver aqui? Claro que sim, respondei, tudo é perfeito!

E pensei que nunca mais sairia deste lugar... mas, enganei-me! Com o tempo a mão que desde a chegada a esta cidade estava presa na minha, afrouxou…e, deixei de a sentir. A música parou, as palavras poéticas fecharam-se nos livros antes abertos, da comida só restavam migalhas, começou a chover e eu senti frio.
Quis fugir, correr para bem longe. Quando parei exausta tudo era escuro, olhei para cima e vi escrito Beco da Solidão. Então desesperada chorei e, pensei de que me tinha servido toda esta viagem se não tinha conseguido permanecer no local escolhido. Deixei as noites passarem uma, após outra até que um dia levantei-me, tomei a Rua da Coragem, passei pelo Largo da Esperança, bebi água no Chafariz da Tristeza, sem nunca parar.
Algumas vezes tive vontade de desistir, mas nessa altura entrava nas lojas da Amizade e aí encontrava forças para continuar. Outras vezes sentava-me no Jardim da Experiência, junto ao Lago da Alegria e acreditava poder um dia com uma mão presa na minha, voltar a viver na Praça do Amor!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Lisboa


Aqui há uns tempos atrás fui jantar com um amigo ao Restô, restaurante do Chapitô. Embora já conhecesse o Chapitô, um dos meus locais favoritos para estar com amigos, conversar, beber um copo, nesse dia tomei nota das impressões que me ficaram.
Para além da excelente companhia, da boa conversa, da comida e do tinto, transcrevo directamente da folha do meu Moleskine (adoro esta palavra) o que abarquei da janela do restaurante. Ter um destes caderninhos para além de prático, permite-me acreditar que um destes dias ainda vou ser famosa por escrever “coisas”... Eheheheh!!!

Lisboa acomodada e calma principiava a deitar-se cansada de todo o brilho que a inundou durante o dia.
O rio de um azul único espraiando-se à sua volta; os telhados de um vermelho escuro assimétricos e desalinhados encerrando mistérios de pessoas que pensam, vivem e sonham nesta cidade, sem se darem conta de como Lisboa é linda.
No céu os pássaros esvoaçando assustados pela escuridão que já pressentem.
E o sol a esconder-se devagar como quem dança ao som de um compasso lento, envolvendo nos braços a sua amada.
Os tons quentes e doces deste final de tarde despertaram-me os sentidos, fazendo com que perdurassem na minha memória para lá do crepúsculo.
Num momento de rara beleza tinha Lisboa a meus pés...e, senti-me rainha nesse instante.

Num outro dia, andava eu envolta nos meus afazeres profissionais, quando tive a felicidade de ter de atravessar Lisboa de um lado ao outro. Estava na Rua da Escola Politécnica e tinha uma reunião no Campo dos Mártires da Pátria. Como habitualmente me desloco de metro ou a pé por ser difícil circular e pior ainda estacionar nesta cidade durante o dia, fiz este trajecto a pé. Quando cheguei a casa decidi escrever sobre esta tarde, que de simples e banal, passou a especial, apenas pela diferença de um olhar, porque a diferença não está no que se vê, mas sim como se vê.

Desci pelo Jardim Botânico até à Praça da Alegria.
O verde das orlas das árvores pespontado de prateado e dourado formavam o tecto de todo o jardim.
Pássaros chilreavam e esvoaçam em meu redor, entoando uma música única e sempre tão diferente.
Depois subi no elevador para a outra colina da cidade. Ao passar à porta do Jardim do Torel
não resisti ao apelo desta cidade que vive entre colinas e, entrei.
O sol de um brilho difuso inundava todo o espaço, dando-lhe uma mística especial.
Sem-abrigo dormiam pelos bancos; velhotes jogavam às cartas; anónimos faziam do jardim seu local de
passagem indiferentes a toda a beleza desta cidade.
Havia ainda um malabarista ensaiando novos números (de circo) com uma bola amarela.
Assomei ao miradouro e estremeci de comoção - encontrei Lisboa envolta numa neblina de mistério como só esta cidade consegue ter.

É por tudo isto que acho Lisboa uma das cidades mais bonitas do mundo!


terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O melhor dos mundos possíveis


A semana passada fui ao teatro. Fui ver uma peça inspirada num livro que tanto me divertiu quando o li pela primeira vez, como hoje ao ver a vida da personagem transformada numa representação actual e dinâmica.
Cândido ou o Optimismo foi escrito em 1759, mas poderia muito bem ter sido escrito nos nossos dias, tal é a actualidade que encontramos no desenrolar de toda a acção. Tem guerras e devastação; disputas religiosas; traições e política.
Também naquele tempo Voltaire dizia que "em Portugal nada funciona"..., pois se até a corda destinada a enforcar o mestre Pangloss, não cumpriu a sua missão por estar húmida das chuvas torrenciais que abalaram Lisboa logo a seguir ao terramoto...
Mas o que mais me atrai nesta história é o facto da personagem principal, apesar de todos os males, infortúnios e desventuras que protagoniza (e garanto que são muitos), acreditar que tudo o que lhe acontece na vida é justificado e, de acordo com os ensinamentos de filosofia do seu mestre, por um nexo de causalidade do melhor dos mundos possíveis!


Embora acreditando que não há explicação lógica para tudo o que nos acontece, nem todos os acontecimentos vividos obedecem a um encadeamento natural, acredito viver no melhor dos mundos possiveis, pois é aqui que "existo" e "me sinto".

Colocando de lado as grandes palavras que descrevem sentimentos grandiosos, tento o caminho da simplicidade e vou aprendendo a valorizar aquelas pequeninas coisas que de tão simples e banais passam despercebidas, mas que quando acontecem iluminam a alma: um olhar de cumplicidade, um sorriso de satisfação, um gesto de concordância.

Presto atenção aos pormenores, pois são eles que fazem a diferença descobrindo todos os dias novas tonalidades no azul do céu, alterações no brilho do sol, mil um verdes das árvores.

Procuro ver o interior onde guardo memórias, outras recordações e algumas saudades, para poder reviver os bons acontecimentos passados.

Mantenho-me desperta para saborear, sentir, viver e às vezes (porque tem de ser) também sofrer, no melhor dos mundos possiveis: o meu mundo!




quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Dia de S.Valentim


Hoje é dia de S.Valentim, dos Namorados, dos Beijos e dos Abraços.
Dia de rosas vermelhas, amarelas e brancas, de postais com ursinhos, cartas de amor, poemas melosos, almofadas vermelhas, boxers aos corações, chocolates "mon chérie".
É dia de palavras doces e frases pomposas, declarações a metro e outras coisas que tais.
Mas é preciso marcar um dia no calendário para isso?! Ou o amor festeja-se todos os dias?
Eu que sou romântica, sensível e apaixonada acho este dia uma perfeita parvoíce e, apenas mais uma forma de demonstração de afectos, criada pela nossa sociedade de consumo.
Desculpem a falta de jeito, mas para mim os afectos renovam-se cada dia, demonstrando, mostrando, acreditando, entregando-se.

Em 1935 Álvaro de Campos escreveu este Poema:

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
como as outras,
Rídiculas.
As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Rídiculas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas.
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículos).

Então e de acordo com o poeta, hoje é Dia do Ridículo e do Esdrúxulo!!!

Mas se o amor não é uma palavra esdrúxula, não pode ser ridículo.

Não sendo o amor ridículo como o podem ser as cartas que falam dele?!

Já das palavras esdrúxulas não posso dizer o mesmo, pois ridículo é mesmo uma palavra esdrúxula.

Está explicado porque não acho graça a este dia: não sou ridícula, nem esdrúxula, mas acredito que o amor é fogo que arde e se sente, por isso... "cheers" a todos os meus amores!!!

sábado, 9 de fevereiro de 2008

Live on paper


Esta ideia de criar um blog levedava na minha cabeça já há algum tempo, mas sem o fermento certo, não crescia. Hoje, sentei-me em frente do computador e, a vontade surgiu. Porém deparei-me com outro entrave - que título lhe dar? Dei voltas à cabeça, para ser original..., procurei na minha estante fontes de inspiração e, encontrei o título de um livro que fala de vida. Apesar de não ser original, exprime tudo o que quero passar para este bloco de notas.
É também a minha homenagem à pessoa que o escreveu, que apesar de ter partido para sempre, continua comigo, por ser impossivel de esquecer. Ao Zé que viveu sempre no fio da navalha e que nunca deixou de sonhar, um grande bem-haja pelo tanto que partilhou comigo.
Viver em directo, também no papel, é a minha forma de estar na vida, porque como disse a Madre Teresa "hoje é sempre o dia mais belo"!
Acordo cada manhã com a satisfação de mais um dia para viver; mais uma oportunidade para poder fazer mais e melhor por mim e pelos outros; mais um desafio para testar as minhas capacidades.
Sendo que cada vez tenho menos certezas, também é verdade que estou hoje melhor preparada, que amanhã, para fazer face às dúvidas e inseguranças que se me deparam em cada dia!
Aprendi com a soma de muitos dias vividos, a superar melhor as expectativas que ficam àquem, a festejar as que vão mais além, porque expectativas não vou deixar de ter, senão perco a capacidade de sonhar e a vontade de realizar.
É por isso que não cruzo os braços e encaro cada dia com convicção e uma vontade imensa. Escuto esta cantiga, na melodiosa voz da Maria Bethânia e encontro o eco da minha caminhada:


Tocando em Frente

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais
Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe,
Eu só levo a certeza
Que muito pouco eu sei,
E nada sei
Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maças
É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz para poder seguir
E é preciso chuva, para florir
Sinto que seguir a vida seja simplesmente
Conhecer a marcha, ir tocando em frente
Como um velho boiadeiro levando a boiada
Eu vou tocando os dias pela longa estrada,
Eu vou
Estrada eu sou
Conhecer as manhas
...
...
...
Conhecer a marcha, ir tocando em frente
Cada um de nós
Compõe a sua própria história
E cada ser em si carrega o dom de ser capaz
De ser feliz
Conhecer as manhas
...
...
...
De ser feliz

Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
e no outro vai embora.