terça-feira, 29 de julho de 2008

Memórias da minha infância


São tantas e tão boas as memórias da minha infância...

Nasci e vivi no Alentejo até aos 10 anos. Estremoz é hoje a mesma cidade calma e luminosa, de que me recordo, embora tenha passado algum tempo desde então; é só mesmo,... algum tempo.


Mas tal como a verdadeira família é aquela que escolhemos com o coração, também a nossa terra é aquela que o nosso ser adopta e sente como sua, por isso a minha terra é mais Lisboa que Estremoz.

Cresci numa família cheia de regras e valores, que me irritavam e me faziam na altura, um pouco contestatária e irreverente (nada de grave e muito ténue), mas viver com os avós nem sempre é facil e, os alguns anos da minha infância foram passados em casa dos meus.

O avô era uma pessoa austera que antes das refeições começarem, fazia o aviso de que "os meninos à mesa não falam" e, eu e o meu irmão não falávamos, mas passávamos o tempo todo evitando o olhar um do outro senão havia risada pela certa,...acabando depois em reprimenda. Eram dificieis aqueles almoços e jantares a tentarmos portarmo-nos bem. Hoje já conseguimos estar correctamente sentados à mesa!...eheheheheh!!!

A avó era diferente: muito mandona e teimosa, mas também mais leve e solta..., como solto o seu sopapo, que a mão da minha avó era leve a levantar, mas pesada a baixar, mas com ela tudo era mais facil. Com a Guiomar era tudo divertido, pela paciência que tinha para as minhas irreverências, para as desculpa que arranjava quando eu fazia disparates, pelos bolos de aniversário que fazia. Só há um desses disparate que ela não perdoou...o chegar a casa com uma sola extra de alcatrão nos sapatos!!! O que foi preciso esfregar para conseguir retirar o alcatrão colado à sola. Mas acreditem que foi bem divertido andar em cima do alcatrão acabado de aplicar na estrada!!!

Embora respeitasse o meu avô, na altura acho que era mesmo medo que sentia e, só adulta o aprendi a amar. Era dificil de entender aquele distanciamento de afectos, quando não tenho dúvida do muito que gostava de mim, pois fui a única neta (talvez por não ter mais nenhuma; os outros eram rapazes) a quem deu o "petit-non" de carochinha, embora não saiba a razão deste nome, a não ser que eta carinhoso. Deve ser por isso que a história da carocinha é ainda hoje uma da minhas preferidas. O que a minha filha ouviu essa história, revista, alterada, aumentada e comentada não passa pela cabeça de ninguém.

...e como é bom recordar e partilhar essas memórias.