quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Fernando Bragança Gil (1927-2009)


Falar do Fernando é uma tarefa duplamente dificil... não só pelo sentimento da perda, mas por temer não conseguir transmitir em palavras a emoção de todas histórias que comigo partilhou, das conversas que tivemos, das viagens que fizemos e da muita cumplicidade que havia entre nós. É verdade mãe, não era contra ti que nos uníamos, mas por ti, senão as pequenas disputas perdiam toda a graça. Não tenho dúvida de que a minha mãe e o Fernando com todas as suas imperfeições, eram o casal perfeito, que se completava e complementava. Era fantástico vê-los e ouvi-los a trabalhar nas tardes de domingo.

À medida que vou escrevendo, descubro que afinal é tão facil falar do meu padastro - essa pessoa fantástica, com quem tive o privilégio de privar! Aos 80 tinha a vontade de viver de um garoto, o entusiasmo de um adolescente e o conhecimento dos sábios e, sempre recusou considerar-se velho (claro que só podia, pois na realidade o Fernando nunca foi velho, apenas tinha mais alguns anos). Recordo o quanto aprendi com ele sobre história, literatura, música, viagens e ciência, porque verdadeiramente o Fernando era "sempre" um professor e divulgador. Adorava explicar, ensinar, divagar e qualquer pessoa ficava presa às suas palavras simples e, vibrantes. Disse-me muitas vezes que não sabia o que era ter um "trabalho" porque aquilo que fazia, nunca o considerou como tal, pelo prazer e paixão que lhe dava.

Sinto tantas saudades do seu riso franco e da sua exuberância. Das suas fúrias quando falavam mal o português na televisão, ou o escreviam errado nos jornais. Claro que não era uma pessoa comedida e, parte do seu encanto residia nessa particulariedade. Demasiado rigoroso e exigente com tudo, a idade trouxe-lhe alguma condescendência e muita paz, escasseando as "explosões", mas mantendo fidelidade aos seus "ódios de estimação". Para além de tudo isso espalhava charme à sua volta! Uma vez fomos ao teatro ver Copenhaga, uma peça sobre físicos. Durante o intervalo no foyer, algumas ex-alunas vieram cumprimentá-lo. Escusado será dizer que já só o largaram quando o intervalo terminou.

Lembro também a inauguração do Museu de Ciência e o envolvimento e emoção vividos e transmitidos a todos que com ele privávamos. Tanto, que passados uns tempos, a minha filha, sua neta do coração, na altura com seis anos, foi ao Museu em visita de estudo e, claro que não se cansou de dizer a todo os colegas de escola que aquele era o museu do avô.

Se é verdade que as pessoas que amamos nunca nos deixam, bem haja por continuar presente na minha vida!


1 comentário:

Ana V disse...

Minha querida, valeu a pena esperares para publicar esta homenagem ao Professor. Está linda, de grande simplicidade e sensibilidade, ao mesmo tempo. Sentimentos genuínos expressos com elegância, com bom gosto, como te é habitual.
Beijinho grande, linda.
Ana Vassalo